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domingo, 18 de janeiro de 2009

protestantismo e liberalismo no Brasil Colônia e na República

Eu já publiquei este post no meu blog, mas decidi colocá-lo aqui no Teologia Livre também para complementar o debate do artigo A postura evangélica frente à ditadura militar



Muitos evangélicos entram em pânico ao ouvir essa palavra: liberalismo. Mas foi justamente o liberalismo que possibilitou a entrada oficial protestante no Brasil.
Na época do Brasil colônia, a presença protestante sempre foi marginal:
  • de 1555 a 1560: invasão da baía de Guanabara com o objetivo de formar a França Antártica. Calvino até enviou pastores e deu orientações especiais para a expedição, que tinha uma áurea de conquista da terra prometida.
  • de 1630 a 1645: invasão dos holandeses no Nordeste, movidos nem tanto por um ideal de promessa, mas também pela exploração colonialista do açúcar e o consequente comércio pela Companhia das Índias.
  • na primeira década do século XVIII: novamente invasão francesa para a formação da França Equatorial no Maranhão.
A situação melhorou com a chegada da família real ao Brasil e a "amizade" com a Inglaterra protestante. 
Segundo Antonio Gouvêa Mendonça, em seu livro O Celeste Porvir:
O protestantismo só conseguiu implantar-se definitivamente quando condições políticas e sociais apresentaram possibilidades de neutralizar a presença protestante de modo que ela não viesse a conseguir, por conta de seu enquistamento, transformações sensíveis na cultura católica luso-brasileira.
O liberalismo foi um dos fatores para estas mudanças políticas e sociais.

Os ideais de liberdade individual e progresso do liberalismo favoreceram a abertura constitucional a novos credos no Brasil. O protestantismo, que vinha dos ricos países europeus e dos Estados Unidos, era visto na época como um motor para o progresso e o enriquecimento nacionais.
Não só os intelectuais abraçaram o liberalismo, mas também parte do clero católico era a favor da modernidade.
Unido ao espírito liberal, a crise do padroado na Igreja Católica e questões cotidianas, como a administração exclusiva de cemitérios pelos católicos, fizeram com que a Constituinte de 1823 tivesse relativa abertura ao protestantismo.
Mas, por fim, embora continuasse mantendo a religião católica como religião do Estado par excellence, e a única a ser mantida por ele, a Constituição reconhecia o Brasil como nação cristã e todas as suas comunhões e estendia os direitos políticos a todas as confissões cristãs (Antonio Gouvêa Mendonça).
O liberalismo se acentuou ainda mais no período Republicano, quando o Estado se tornou totalmente laico - o que favoreceu muito o protestantismo.
Silas Luiz de Souza (meu professor de História do Cristianismo e História do Protestantismo na América Latina) em seu livro Pensamento social e político no protestanismo brasileiro afirma
O protestantismo entrou no Brasil como uma proposta liberal de modernização do país. Essa modernização passava necessariamente pela completa separação entre Igreja e Estado e pela total laicidade deste. Todas as liberdades deveriam ser garantidas.[...] O projeto era simples: se os indivíduos fossem transformados, a sociedade seria modificada. Mas a liberdade deveria ser ampla. Somente com liberdade para pensar, agir, cultuar, aprender e mudar é que as pessoas, podendo chegar ao conhecimento da verdade, escolheriam a verdadeira religião e a melhor forma política.
Há muito mais entre protestantismo e liberalismo do que imaginamos...

5 comentários:

Anônimo disse...

Boa Nani, a infelicidade é ser anti-liberal e ao mesmo tempo pentecostal...

todo pentecostal tem um pouco de Schleiermacher!

Comentei algo parecido no post sobre maçonaria em meu blg.

ROGÉRIO B. FERREIRA disse...

Querida Nani,

estava aqui lendo um pouco mais sobre Schleiermacher quando li o sua Postagem e o comentário do Charles.

A verdade é que todos hoje são influenciados por esse grande pensador cristão, que libertou a fé da tirania de uma razão fria. E deu uma resposta aceitável para a sua época.

Como você bem escreveu essa resposta trouxe vantagens até para a então minúscula igreja protestante no Brasil.

Talvez os pentecostais de fato sejam os mais beneficiados devido ao valor que Schleiermacher devolveu aos sentimentos. Obviamente existem muitos exageros que não são necessariamente aquilo que FDS descreveu...

O papel da "visão de mundo" na religião também é outro pilar que ele deixou para a cristandade, seja ela pentecostal ou não.

Enfim, gostei, e nos ajuda a pensar mais sobre nossa situção atual.

Um grande beijo,

Roger

MamaNunes disse...

Nada como a compreensão!
Um abraço

Silas Luiz disse...

Oi.
Pesquisando alguma coisa descobri esse blog. Fiquei feliz em saber que meu livro pode estar ajudando a entender um pouco melhor a igreja brasileira.
Essa discussão não pode parar e muito menos desanimar alguém. Pensar o passado deve nos ajudar no presente.
Abraço.

Marcio Barroso Estanqueiro disse...

Sou Cristão, sou pentecostal, e também um liberal! Sou a favor do Livre Mercado, e totalmente contra o Socialismo. Existe coincidencias em pensamento do cristão que crê na liberdade de escolha (livre arbítrio) e no cristão que crê na liberdade do Liberalismo. Quem diz o contrário, não conhece nem uma nem outra coisa.